terça-feira, 3 de março de 2009

01/01/2000

"Nada mudou. Meia dúzia de idiotas se matou, e nada mudou".

"É pau, é pedra, é o fim do caminho...".  

"A goteira no corredor continua pingando - Um dia ainda morro por causa daquela goteira - e eu continuo desejando que a Elis não tivesse morrido, enquanto a escuto pela... sei lá que vez. Mais uma virada de ano e eu não fui a uma festa de Reveillon. Não preciso de motivo pra encher a cara. "É uma febre terçã". Parece piada, mas não sei o que é terçã. Quem se importa? O dicionário tá longe. Nunca fiz rituais de passagem de ano, e estou aqui, começando um diário em plena virada. Ah que infer-" 

A campainha tocara. Ele se levanta. Seu joelho, problemático desde que ele se lembra, estremece, e se recusa a acompanhá-lo. Os dois lutam. Por fim, o joelho se dá por vencido. A mão direita passa pelo cabelo. A mão esquerda estica a blusa social. As duas levantam a calça. A direita abre a porta. Os lábios se afastam. A língua toca os dentes. O cérebro pensa um falso e belo sorriso. O corpo cuida para que ele seja tão falso quanto a situação pedia: 

- Po... - Havia deixado Elis cantando sozinha. Após se virar correndo e desligar o som, ele volta para a porta para continuar. - Posso ajudar? 

Era Vinícius, o vizinho do lado. Vestia uma patética roupa branca e segurava uma taça de espumante na mão esquerda. "Insuportavelmente simpático"

- Feliz ano novo! - Gritou. Tudo nele cheirava mal.

- É... obrigado. - O seu cumprimento soou muito mais desanimado do que as letras podem exemplificar. Pronunciava cada sílaba mais baixo que a outra. Era o seu modo de dizer "Vá embora". A cena foi seguida por um silêncio gritante que expulsou de vez o vizinho bem-intencionado.

- Então... Vou indo. - Mal terminou a frase e Vinícius não via mais o rosto do vizinho, mas sim os seus próprios olhos no número 305 de metal pendurado na porta. Dois, três, quatro. Cinco passos até a escrivaninha empoeirada. Ele voltava para a companhia de Elis.

"É um resto de toco. É um pouco sozinho"

E ele escrevia, tentando reordenar as embaralhadas impressões.

"Insuportavelmente simpático. Vinícius. Nome do poeta. Parece piada. Ele é uma piad..." 

- Ah! Pro inferno com esse diário. - Não precisava de desculpa para beber. Já havia tomado Dois, três, quatro. Cinco doses. Mas ainda estava lúcido. Ou ao menos era nisso que sua lucidez acreditava. Planos para o feriado? Cinema talvez. Cuidaria disso quando acordasse. Se acordasse. Passos lentos pelo corredor. Dois, três, quatro. Cinco pingos da goteira. Cinco doses que o fizeram esquecer completamente das cinco gotas. Depois da derradeira pisada, ele já sabia o que fazer no feriado. Seu apartamento girava pela sua cabeça. Sua cabeça girava pelo apartamento. Depois disso, nunca mais precisaria brigar com o seu joelho. 

“É uma ave no céu. É uma ave no chão.”

Continua.

5 comentários:

  1. Esse eu não entendi. Desculpe xD

    http://laboratorio-alienigena.blogspot.com/

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  2. Não entendeu... ¬¬"
    Eu entendi tudo...
    O texto é bom, mas a linguagem é pobre... QQQ
    Mas está bom Irmão Gêmeo do Mal!

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  3. lol

    Vou considerar isso como um elogio xDD

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  4. Legal, parece ter influencias do existencialismo de Sartre. Estou certo?

    Willian Paulino

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  5. Já li um pouco de Sartre mas não é minha maior influência. Me baseei em Kafka (Vide metamorfose), no realismo do Machado, e um pouco em Dostoiévski, que tô lendo agora. Bom de ver por aqui paulino ^^

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