"Nada mudou. Meia dúzia de idiotas se matou, e nada mudou".
"É pau, é pedra, é o fim do caminho...".
"A goteira no corredor continua pingando - Um dia ainda morro por causa daquela goteira - e eu continuo desejando que a Elis não tivesse morrido, enquanto a escuto pela... sei lá que vez. Mais uma virada de ano e eu não fui a uma festa de Reveillon. Não preciso de motivo pra encher a cara. "É uma febre terçã". Parece piada, mas não sei o que é terçã. Quem se importa? O dicionário tá longe. Nunca fiz rituais de passagem de ano, e estou aqui, começando um diário em plena virada. Ah que infer-"
A campainha tocara. Ele se levanta. Seu joelho, problemático desde que ele se lembra, estremece, e se recusa a acompanhá-lo. Os dois lutam. Por fim, o joelho se dá por vencido. A mão direita passa pelo cabelo. A mão esquerda estica a blusa social. As duas levantam a calça. A direita abre a porta. Os lábios se afastam. A língua toca os dentes. O cérebro pensa um falso e belo sorriso. O corpo cuida para que ele seja tão falso quanto a situação pedia:
- Po... - Havia deixado Elis cantando sozinha. Após se virar correndo e desligar o som, ele volta para a porta para continuar. - Posso ajudar?
Era Vinícius, o vizinho do lado. Vestia uma patética roupa branca e segurava uma taça de espumante na mão esquerda. "Insuportavelmente simpático".
- Feliz ano novo! - Gritou. Tudo nele cheirava mal.
- É... obrigado. - O seu cumprimento soou muito mais desanimado do que as letras podem exemplificar. Pronunciava cada sílaba mais baixo que a outra. Era o seu modo de dizer "Vá embora". A cena foi seguida por um silêncio gritante que expulsou de vez o vizinho bem-intencionado.
- Então... Vou indo. - Mal terminou a frase e Vinícius não via mais o rosto do vizinho, mas sim os seus próprios olhos no número 305 de metal pendurado na porta. Dois, três, quatro. Cinco passos até a escrivaninha empoeirada. Ele voltava para a companhia de Elis.
"É um resto de toco. É um pouco sozinho"
E ele escrevia, tentando reordenar as embaralhadas impressões.
"Insuportavelmente simpático. Vinícius. Nome do poeta. Parece piada. Ele é uma piad..."
- Ah! Pro inferno com esse diário. - Não precisava de desculpa para beber. Já havia tomado Dois, três, quatro. Cinco doses. Mas ainda estava lúcido. Ou ao menos era nisso que sua lucidez acreditava. Planos para o feriado? Cinema talvez. Cuidaria disso quando acordasse. Se acordasse. Passos lentos pelo corredor. Dois, três, quatro. Cinco pingos da goteira. Cinco doses que o fizeram esquecer completamente das cinco gotas. Depois da derradeira pisada, ele já sabia o que fazer no feriado. Seu apartamento girava pela sua cabeça. Sua cabeça girava pelo apartamento. Depois disso, nunca mais precisaria brigar com o seu joelho.
“É uma ave no céu. É uma ave no chão.”
Continua.
Esse eu não entendi. Desculpe xD
ResponderExcluirhttp://laboratorio-alienigena.blogspot.com/
Não entendeu... ¬¬"
ResponderExcluirEu entendi tudo...
O texto é bom, mas a linguagem é pobre... QQQ
Mas está bom Irmão Gêmeo do Mal!
lol
ResponderExcluirVou considerar isso como um elogio xDD
Legal, parece ter influencias do existencialismo de Sartre. Estou certo?
ResponderExcluirWillian Paulino
Já li um pouco de Sartre mas não é minha maior influência. Me baseei em Kafka (Vide metamorfose), no realismo do Machado, e um pouco em Dostoiévski, que tô lendo agora. Bom de ver por aqui paulino ^^
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